sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pseudo-baleia: visão sociológica

Por várias vezes já ouvimos falar sobre a estória bíblica de Jonas e a baleia. Num breve relato lembremos que Deus mandou o profeta Jonas ao povo de Nínive, grande capital do Império Assírio, para persuadi-los a se arrependerem ou seriam destruídos dentro de 40 dias. Contudo, Jonas procurou fugir do Senhor e na cidade de Jope embarcou num navio com destino a Tarsis. Durante a viagem houve grande temporal e os marinheiros arremessaram Jonas no mar,Deus fez vir um enorme peixe (ou baleia), que engoliu Jonas, conservando-o vivo em seu ventre durante 03 dias e 03 noites. Pediu o Profeta que o Senhor o salvasse; Deus o atendeu e o peixe lançou-o na praia. O Senhor disse novamente a Jonas: “Vai a Nínive prega arrependimento”. Jonas obedeceu. Andou pela cidade, bradando: “De hoje a 40 dias Nínive não existirá mais!” Os ninivitas acreditaram e se arrepederam e Deus, reconhecendo sua contrição, apiedou-se deles e desistiu do tremendo castigo que havia ameaçado.



Nos anos 70 os compositores Sá, Rodrix e Guarabira fizeram a belíssima canção “Mestre Jonas”. A letra satiriza a visão conservadora da vida, o conformismo, a falta de iniciativa e de coragem para viver o que há fora da baleia. Utilizando de metáforas, critica os parâmetros da sociedade e reclusão individual, fazendo citações às práticas sócio-políticas, denunciando o contemporâneo sistema, baseado na ausência de consciência crítica do indivíduo e manipulação cultural e política da população.

Vejamos o que diz a letra:

“Dentro da baleia mora mestre Jonas,
Desde que completou a maior idade,
A baleia é sua casa, sua cidade,
Dentro dela guarda suas gravatas, seus ternos de linho.

E ele diz que se chama Jonas,
E ele diz que é um santo homem,
E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria,
E ele diz que está comprometido,
E ele diz que assinou papel,
Que vai mantê-lo dentro da baleia,
Até o fim da vida,
Até o fim da vida.

Dentro da baleia a vida é tão mais fácil,
Nada incomoda o silêncio e a paz de Jonas.
Quando o tempo é mal, a tempestade fica de fora,
A baleia é mais segura que um grande navio.”

Essa baleia pode ter muitos nomes: o mundo das drogas, a religiosidade extremada, o isolamento de tribos sociais, alienação em ideologias diversas; mas atentaremos para o conformismo contemporâneo.

O conformismo é uma característica marcante de todos nós que vivemos em grupo e que tendemos a comportarmo-nos e a pensar de acordo com as tendências dominantes do grupo em que nos integramos. Mas, infelizmente, o conformismo nos conduz ao lugar comum, a uma estagnação nas crenças limitantes do inconsciente coletivo (social), que transportam a pessoa para o conformismo sem sequer perceber essa locomoção.


O educador Paulo Freire profetizou que as tarefas do tempo do homem moderno em vez de serem fruto de decisão consciente a partir da própria realidade, são decisões de uma elite que por meio da prescrição; massifica, domestica, acomoda, rebaixando o homem à condição de objeto. A massificação transforma os homens em seres passivos, acomodados, ajustados, incapazes de decidir, sem liberdade, e, portanto, heterônomos.

Hoje o homem vive um conformismo pelo qual se torna obrigatório pensar como pensam todos, agir como agem todos. A elite da sociedade dita aos cidadãos um padrão de vida em que eles julgam que é o certo e normal. Ao se conformar com esses padrões, deixamos nossa mentalidade fechada, pois por ser comum a todos, se torna um modo de viver mais fácil. Resumindo, ninguém vai rir de você, te achar estranho ou te condenar, pois você é comum.



Em troca de um falso bem-estar, o homem que aceita ser “comum” torna-se indivíduo preso e manipulado por um sistema fraudulento alimentado pelo engano e pela ambição, projetado por aqueles que ditam as regras.

Essa alienação retira seu direito de escolha, faz conformar para não tomar atitudes. É uma neutralidade que amordaça o senso crítico e o transforma em mais uma coisa chamada "Senso comum" - aquilo que é comum para todos, igual a todos, cópia.

Isso me fez lembrar mais uma música: Ehhhhh vida de gado, povo marcado...Ehhh povo feliz...