quarta-feira, 13 de julho de 2011

O pinheiro não!




O pinheiro não!

Por Leno Costa

Há momentos que nos marcam e nos fazem refletir para a vida toda. Era manhã ensolarada, naquela cobertura somente eu e meu pai, e uma ordem de serviço que dizia: impermeabilizem a jardineira. Mas para tal, era necessário remover a terra e algumas folhagens que esquecidas e ressecadas, não mais ornamentavam.
Foi quando meu companheiro de labuta delegou-me a tarefa de remover a vegetação enquanto ele preparava o composto impermeabilizante. Com vigor adolescente e o desejo de contribuir com o meu melhor, apanhei um facão que estava na bolsa e não sei por que razão meus olhos foram seduzidos por um pinheiro maior que eu que estava no centro da jardineira. Como um herói que golpeia o desafeto com o sentimento de estar prestando um favor à sociedade, golpeei o arbusto por varias vezes reduzindo-o a apenas um pendão esfolado e derrotado.
Foi então quando ouvi um grito que ecoou; “o pinheiro não”! Era meu pai atônito e ofegante que com as mãos na cabeça lastimava a ofensa feita ao arbusto que não era vilão e sim o preferido do dono da casa e o xodozinho da jardineira. Pois era nele que todos os finais de ano se penduravam bolinhas de natal e depositavam a seus pés presentes. Ele, o xodozinho da família pousara antes para diversas fotos da família e ornamentava seus encontros familiares.
Mais tarde meu pai conseguiu contornar a situação, pois, gozava de estima por parte do empregador por ser ótimo profissional e levaram em conta a minha pouca idade e desconhecimento.
Esta história é tão real quanto o fato de termos que conviver em uma sociedade pós-moderna que, olha para os valores como desafeto e inimigo a ser vencido em nome do próprio bem estar. Homens adolescentes que sem maturidade e descompromissados com o social, aplicam golpes nos valores estabelecidos reduzindo-os a nada.
São pobres por não discernirem o bem e o mal. Atribuem bem ao que é mal e chamam de abominável aquilo que é belo e sustentáculo. A verdade se tornou relativa. Como loucos, vagueiam, mesmo tendo a tecnologia a seu favor.
É preciso pensar nos marcos antigo não com desdém, mas como referencial e estrutura importante para nos projetar como pessoas que pensam, escolhem e sentem. Não podemos arrancar os pinheiros como se fossem ervas daninhas. É preciso pensar.

Leno costa é teleólogo e co-autor do blog.